30/11/2018 1:43 pm | Atualizado em: 28/03/2019 1:44 pm
Importante capítulo na história da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a nova tradução da Bíblia é resultado de trabalho científico e pastoral que merece ser conhecido por todos. A tradução da Bíblia pela CNBB é fruto de vinte e cinco anos da dedicação de especialistas cientificamente preparados, pastoralmente sensíveis, pois a Palavra de Deus é alimento que sacia o espírito e a existência humana.
A tarefa de Proclamar a Palavra é dever de todos, e a colegialidade promovida pela CNBB fortalece a comunhão, qualificando o serviço evangelizador da Igreja. Evangelizar não é tarefa fácil. Exige grande responsabilidade. Compromisso que não pode ser confundido com proselitismos e interpretações fundamentalistas – que manipulam sentidos objetivando alcançar interesses pouco nobres ou opostos aos valores presentes na Palavra de Deus. A tarefa de traduzir a Bíblia requer muito de muitos. Exercício de caráter espiritual e teológico, que inclui rigor científico no campo da interpretação, com profundo conhecimento sobre as culturas e práticas religiosas, além de qualificada compreensão sobre os complexos estágios da história em que os livros da Bíblia foram escritos.
O ponto de partida para o início da tradução oficial das Sagradas Escrituras, promovida pela CNBB, é a reverência à Palavra de Deus, à sua sacralidade. Também foi princípio que norteou os trabalhos o compromisso de oferecer às comunidades de fiéis, e a todos que se abrem, com boa vontade, à busca da verdade, uma tradução com força comunicativa, interpelante. Compreende-se, assim, o longo tempo dedicado à tradução.
A nova e completa tradução da Bíblia firma ainda mais os passos da Igreja Católica, que nasce e vive da Palavra, na tarefa de proclamar e deixar-se interpelar pelas Sagradas Escrituras, cotidianamente. Um exercício que tem força transformadora, pois a missão de Proclamar a Palavra, abraçada com amor pela Igreja, afronta muitas situações configuradas no contexto religioso contemporâneo. Convive-se, na atualidade, com o constante risco de interpretações que estreitam o sentido real da Palavra de Deus: não raramente, pessoas se apropriam da Bíblia e dedicam-se a compreendê-la a partir de perspectivas subjetivistas, “leituras tortas”. Esse descompromisso com a fiel leitura da Palavra de Deus serve apenas para validar posturas religiosas que estão, lamentavelmente, distantes do sentido verdadeiro e autêntico do tesouro inestimável do cristianismo.
Ao concluir o longo percurso de um trabalho sério de tradução da Bíblia – a Bíblia oficial da CNBB – a Igreja Católica testemunha sua disponibilidade para escutar e proclamar a Palavra diariamente, no exercício contínuo de aprimorar o próprio percurso à luz das Sagradas Escrituras. Proclamar a Palavra é colocar o ser humano diante de seu Criador, necessidade essencial de cada pessoa. Todos precisam tornar-se íntimos de Deus. Não se encontrará o verdadeiro sentido da vida sem essa experiência.
Feito à imagem e semelhança de Deus, que é amor, o ser humano só pode se compreender quando acolhe o Verbo, Cristo Jesus, de modo dócil à obra do Espírito Santo. Não há outro caminho tão completo e amoroso para ter clareza sobre o sentido da vida. E Deus, a partir de sua Palavra, fala a cada pessoa. Estabelece assim, por sua Palavra, o diálogo com seus filhos e filhas. Cabe e espera-se a resposta de cada um e de cada uma. Deus escuta e responde às perguntas da humanidade. A Igreja Católica, com a Bíblia da CNBB, coloca-se ainda mais a serviço do povo, contribuindo para o diálogo de cada pessoa com Deus. Assim, ajuda a humanidade na correção de rumos, no alcance de novas respostas, possíveis a partir do respeito e da fidelidade ao Evangelho. Todos se tornem mais conscientes a respeito da própria missão e identidade, inspirados pela força da Palavra da Palavra de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte