12/06/2020 9:52 am | Atualizado em: 19/06/2020 10:59 am
Valorizar a comunicação é fundamental na missão evangelizadora da Igreja Católica. Isto não significa investir em um empreendimento privado, menos ainda constituir um negócio rentável. Essa valorização deve sempre reger-se no horizonte evangelizador que norteia o caminho missionário da Igreja, o que inclui balizar conteúdos e práticas comunicacionais a partir de princípios inegociáveis. Assim, a Igreja, a partir da comunicação, anuncia o Reino de Deus e, pela força desse anúncio, transforma vidas, ajudando na construção de sociedades justas e solidárias.
O envolvimento de diferentes atores no processo comunicacional das mídias católicas, com as suas especificidades, nuances e impostações, não pode dispensar o alinhamento doutrinal com a Igreja e, consequentemente, o compromisso com a evangelização. A Igreja Católica é detentora de um horizonte que vem da inspiração de suas tradições, valores, experiências, documentos e, especialmente, da Palavra de Deus. Isto significa dizer que não são permitidas superficialidades ou invencionices na comunicação da Igreja que possam desfigurar a beleza e a inteireza da fé cristã católica. Arriscados personalismos, alimentados por desvios religiosos nefastos, merecem adequado tratamento. O importante serviço da comunicação católica enfrenta desafios que são próprios do atual contexto social e político. Um contexto sociopolítico contaminado pelas disputas de poder, busca pela efetivação de domínios e acúmulo de dinheiro.
É sabido que manter serviços de comunicação custa caro, exige investimento permanente em profissionais e no contínuo avanço tecnológico. O aspecto econômico impõe alguns revezes, mas a comunicação católica não pode afastar-se do compromisso de anunciar a Boa Nova. Deve oferecer significativa e qualificada prestação de serviços que gravitam ao redor dos pilares da evangelização, da cultura e da educação. A fonte inesgotável de conteúdo para a comunicação católica é o Evangelho de Jesus Cristo, firmando o histórico compromisso da Igreja de ajudar a tecer a cultura da vida e da paz.
A comunicação na Igreja deve, pois, cultivar a convicção de que o Evangelho é o bem mais precioso a ser oferecido à humanidade, que carece de rumos novos capazes de levá-la à cura de suas feridas, à superação de seus estrangulamentos. Trata-se de enorme desafio, que inclui a diversificação em rede dos muitos modos de se fazer comunicação e a necessidade de revestir os processos comunicativos com uma força incidente nas dinâmicas sociais. A Igreja Católica, para se fortalecer a partir da comunicação, deve, cada vez mais, voltar-se aos princípios que norteiam a sua identidade e missão.
A comunhão, que faz parte da vida da Igreja, é força com propriedade de amalgamar as diferenças, tornando-as uma grande riqueza, com elementos que corrigem descompassos e iluminam caminhos. A comunhão leva a novos passos corretivos que consolidam a comunicação católica como um bem indispensável e diferenciado para a vida social. A relevância da comunicação católica para a transformação da sociedade é que motiva cristãos católicos a apoiarem diferentes iniciativas da Igreja no campo comunicacional. Tudo para que não se cale a voz do Evangelho de Jesus Cristo em uma sociedade de vozes dissonantes e comprometedoras.
A presença da Igreja, de modo mais efetivo, nos meios de comunicação, vem das lúcidas indicações do Concílio Vaticano II, em 1965. Já há 54 anos é promovido o Dia Mundial da Comunicação Social, para reafirmar a importância de diferentes práticas comunicativas no contexto da Igreja – das que exigem maior mobilização tecnológica e operacional às realizadas em âmbito mais comunitário, nas pastorais de comunicação. Trata-se de uma ampla rede a serviço da evangelização e, consequentemente, da edificação de uma cultura da paz. A Igreja Católica, com seus meios de comunicação – televisivos, radiofônicos, impressos, digitais, em redes – interage com os muitos fluxos relacionais da sociedade. Enfrenta batalhas, interesses e até mesmo embates desiguais.
A Igreja enfrenta essa luta valendo-se de plataformas e mecanismos que ecoam a fé cristã. Um caminho desafiador que não pode ser trilhado isoladamente, compreendendo a comunicação católica como negócio particular, sob pena de se perder rumos, fazer escolhas equivocadas e, até por desespero, propor o que não condiz com as lições de Jesus Cristo. A Igreja Católica tem parâmetros e mesas de diálogo para fomentar a indispensável comunhão. Uma união cotidianamente renovada que faz o serviço evangelizador no âmbito da comunicação ganhar cada vez mais qualidade. A realidade atual, seus embates e até mesmo equívocos apontam lições nesse contexto que precisam ser aprendidas, para novas configurações estratégicas. Corações se abram e, com a dedicação de todos, avance, sempre mais, o serviço indispensável da comunicação na Igreja.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)