Crises institucionais

A reflexão sobre as muitas crises que pesam, hoje, sobre os ombros da sociedade contemporânea, não pode deixar de considerar, seriamente, as crises institucionais, que têm um peso relevante no conjunto da história da humanidade, das sociedades e no interno das próprias instituições. Um peso que se calcula pelo passivo de atrasos, de desvirtuamentos na identidade, manipulação de finalidades, nos comprometimentos de propósitos e na condução das instituições para atender interesses pessoais e partidários. O desafio é enorme ao se ter em conta a importância capital de cada instituição, compondo o tecido dos segmentos da sociedade, na tarefa de se atingir metas e cumprir os compromissos prometidos – dever ético e moral.

A instituição é uma organização social sistêmica que se articula pelo conjunto de seus instituídos, a partir dos valores que definem a sua identidade e configuram sua conduta, que sempre deve ser garantida pelos desempenhos e responsabilidades diversas assumidas por todos os seus agentes. Há, pois, uma capital importância na instituição enquanto corpo que congrega pessoas no horizonte de propósitos norteados por valores e princípios que antecedem interesses particulares e que são a garantia do bem e da justiça, indispensáveis ao seu bom e adequado funcionamento. Na contramão desse entendimento, a produção em série de percalços e de desfiguração, submete a instituição aos interesses cartoriais e suga dela tudo o que pode, até o seu completo desvanecimento, decretando seu enfraquecimento ou sua falência.

Pesa, então, uma grave responsabilidade sobre o funcionamento de cada instituição na sua tarefa de contribuir para que a sociedade seja conduzida na direção adequada, de modo a torná-la o lugar da cidadania e da experiência capaz de humanizar as pessoas, por meio da autocompreensão, livre dos estreitamentos egoístas. Aqui se avaliam as instituições políticas e religiosas, familiares e culturais, privadas e públicas, menores ou maiores, recentes ou antigas. Em suas responsabilidades e desempenhos podem brotar as crises institucionais que atravancam processos e causam prejuízos para a sociedade.

E no tratamento das crises institucionais inclui-se o enorme desafio de se discernir sobre o que está em sua origem: incompetência de representantes e dirigentes que deveriam cumprir seu papel, de modo a não desvirtuar a identidade e a missão da organização em prover as necessidades e expectativas da sociedade. Esse propósito depende visceralmente dos membros de cada instituição. Seu desvirtuamento como processo não vem dos valores e princípios que a definem. É resultado das incompetências nos exercícios, da falta de clarividência na condução dos processos. Inclui-se ainda a terrível mediocridade de se usufruir da instituição como guarida para interesses próprios. Fenômenos curiosos e devastadores ocorrem nesses processos, muitas instituições se distanciam de sua identidade e não conseguem cumprir sua tarefa missionária ao se tornarem reféns de mentalidades tacanhas, além do absurdo de se submeterem a propósitos e interesses familiares, político-partidários e às seduções demoníacas próprias do dinheiro, que tudo domina e define. Há cadeiras ocupadas nas instituições, muitas delas por grupos e indivíduos, que produzem a própria cultura, distante da realidade da instituição, mas com força para convencer e envolver os agentes em processos tortos que levam décadas para serem consertados.

As crises institucionais estão intrinsecamente explicadas e amarradas à mediocridade de desempenhos, ao aprisionamento a interesses que desconsideram o bem comum e no encantamento cristalizador de se ocupar os lugares, usufruir dos títulos, desfrutar o poder de ter na mão processos, sem garantir passos novos, avanços inadiáveis e inovações para melhorar a sociedade.  A instituição precisa, como remédio para suas crises, de gente competente, altruísta, e capaz de priorizar, sem medo e sem ansiedades, o bem comum.

Atravancadas e mal conduzidas, as instituições entram em crise, tornam-se pesadas, caras e se restringem a prestar um serviço medíocre. A sociedade é que paga o preço.   Por isso é urgente corrigir os rumos e procedimentos, alinhar fidelização a princípios, fazer escolhas de pessoas adequadas – superar protecionismos e apadrinhamentos – para tirar as instituições de suas crises.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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