09/02/2021 10:26 am | Atualizado em: 09/02/2021 10:26 am
O Papa Francisco também se uniu à Maratona Mundial de Oração On-line contra o Tráfico de Pessoas que, nessa segunda-feira (8), mobilizou o mundo, da Oceania às Américas, para 7 horas de celebração em resposta ao próprio apelo do Pontífice para combater o fenômeno e trabalhar na conscientização de uma economia que não use as pessoas como fins de mercadoria. A participação do Papa foi o momento central do evento com a divulgação de uma mensagem em vídeo.
Na oportunidade, Francisco deu a sua contribuição em relação ao tema escolhido pela Rede Internacional de Vida Consagrada Thalita Kum para a data, ou seja, “Economia sem Tráfico de Pessoas”. O Papa afirmou que uma economia sem tráfico de pessoas é uma economia que cuida das pessoas, por exemplo, que oferece emprego para uma construção social segura; é uma economia com regras de mercado que promovam a justiça e, assim, é uma economia corajosa para “conjugar o legítimo lucro com a promoção do emprego e de condições dignas de trabalho”.
Neste Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas e de memória litúrgica de Santa Bakhita – símbolo do compromisso da Igreja contra a escravidão, Francisco dirigiu a mensagem a todos que trabalham, estudam e refletem contra o fenômeno – além de quem viveu e está vivendo hoje o drama do tráfico em primeira pessoa – e que estão unidos espiritualmente e rezando na maratona on-line, inclusive, através de vários momentos inter-religiosos. Esta jornada especial, disse o Pontífice, é importante para “encorajar a não parar de rezar e lutar juntos” e a promover gestos concretos, que “abram caminhos para a emancipação social” de toda pessoa escravizada para “voltar a ser protagonista livre da própria vida”.
“Caríssimos, este é um Dia de Oração. Sim, há necessidade de rezar para apoiar as vítimas do tráfico e as pessoas que acompanham os processos de integração e reinserção social. É preciso rezar para que possamos aprender a nos aproximar com humanidade e coragem a quem é marcado por tanta dor e desespero, mantendo viva a esperança. Rezar para sermos sentinelas capazes de discernir e fazer escolhas orientadas para o bem. A oração toca o coração e nos impulsiona a ações concretas, a ações inovadoras, corajosas, que sabem assumir o risco, confiando no poder de Deus (cf. Mc 11:22-24).”
A própria memória litúrgica de Santa Bakhita, comentou o Papa, ajuda a invocar a “dimensão da fé e da oração” pelas “pessoas traficadas, as suas famílias e comunidades”. Já sobre gestos concretos para ajudar a combater o fenômeno, Francisco oferece três direções para seguir ao destino de uma “Economia sem Tráfico de Pessoas”. A primeira delas que seja uma economia de cuidado, ou seja, que cuide “das pessoas e da natureza”, criando oportunidades de emprego, por exemplo, “que não explorem o trabalhador com condições de trabalho degradantes e horários extenuantes”.
“Uma economia de cuidado significa uma economia solidária: trabalhamos por uma solidez que se conjuga com a solidariedade. Estamos convencidos de que a solidariedade, bem administrada, dá origem a uma construção social mais segura e mais sólida.”
O Papa também sugeriu que se promova uma economia justa em favor das pessoas, não de interesses dominantes como o lucro:
“Uma economia sem tráfico de pessoas é uma economia com regras de mercado que promovem a justiça e não interesses especiais exclusivos. O tráfico de pessoas encontra terreno fértil na abordagem do capitalismo neoliberal, na desregulamentação dos mercados que visa maximizar os lucros sem limites éticos, sem limites sociais e sem limites ambientais. Se essa lógica for seguida, há apenas o cálculo das vantagens e desvantagens. As escolhas não são feitas com base em critérios éticos, mas, sim, através do favorecimento de interesses dominantes, muitas vezes habilmente revestidos com uma aparência humanitária ou ecológica.”
Por fim, na mensagem em vídeo, o Papa ressaltou que para promover uma economia sem tráfico de pessoas é preciso, antes de tudo, coragem na escolha, “não no sentido da imprudência, das operações arriscadas em busca de lucros fáceis”. Ao contrário, comentou Francisco: é preciso “audácia” para uma construção paciente que não vise “única e exclusivamente a vantagem em curtíssimo prazo, mas os frutos a médio e longo prazo e, sobretudo, as pessoas”.
“Por tudo isso, uma economia sem tráfico de pessoas é uma economia corajosa – é preciso coragem. […] A coragem de conjugar o lucro legítimo com a promoção do emprego e de condições dignas de trabalho. Em tempos de grande crise, como o atual, essa coragem é ainda mais necessária. Na crise, o tráfico prolifera, como todos nós sabemos: vemos isso todos os dias. Na crise, o tráfico prolifera; portanto, precisamos fortalecer uma economia que responda à crise de uma forma que não seja míope, de forma duradoura, de forma sólida. Queridas irmãs e irmãos, coloquemos tudo isso nas nossas orações, especialmente hoje, por intercessão de Santa Bakhita.”
Fonte: Vatican News