12/05/2023 4:11 pm | Atualizado em: 12/05/2023 4:11 pm
Semear esperança é missão cristã indispensável para fecundar o coração da humanidade, garantindo-lhe o necessário sustento para viver. Trata-se de uma semeadura exigente, que precisa ser fecundada pela sabedoria essencial para alimentar o sentido da vida. Semear esperança é missão e testemunho. Um desafio urgente e que se agiganta no atual contexto da humanidade. O ser humano sofre com as falências de muitas esperanças, com a disseminação do pessimismo e, particularmente, com as inseguranças e os desencontros provocados por “notícias falsas”. Um sofrimento crescente também alimentado pela falta de limites: muitas pessoas agem até perversamente para alcançar metas ligadas ao dinheiro e ao poder. Contribuem, assim, para que o mundo seja cada vez mais coberto pelas sombras da desesperança, mal que leva à perda do sentido da vida.
Nesta realidade, os cristãos são convocados a apresentar a razão da sua esperança, um dom. O encontro com Cristo é a certeza de uma esperança bem alimentada e fidedigna. Possibilita uma vida nova sustentada pela luz do Evangelho. Compreende-se, pois, o desafio missionário de cultivar a esperança cristã no próprio coração e cuidar para frutificá-la. A fé cristã é garantia de um futuro que não acaba no vazio. Assim, aqueles que são verdadeiramente tocados pela espiritualidade cristã, mesmo diante de situações graves da contemporaneidade, encontram sentido para viver e seguir adiante, fazendo o bem, ajudando o mundo a mudar. Nessa semeadura que é exigência para os que professam a fé em Jesus, o bispo tem singular responsabilidade: ser sinal da esperança cristã.
Torna-se, pois, oportuno, responder a uma usual interrogação: o que faz um bispo? O bispo é servo do Evangelho, para levar esperança ao mundo. É um sinal, pela força do testemunho, que leva cada pessoa a viver em Deus. Confronta-se, com humildade e simplicidade de coração, com as exigências que são próprias a cada ser humano. Busca, assim, permanentemente, qualificar-se espiritualmente, para estar a serviço de todos, sendo ancoragem que ajuda cada pessoa a reconhecer o sentido da própria vida. Trata-se de uma missão árdua e até extenuante, suportada e fecundada pelo exercício diário, orante e dialogal, de confiar incondicionalmente em Deus, purificando-se de seus próprios caprichos e estreitezas humanas, de todo tipo.
Compete ao bispo, primeiro servidor na comunidade de fé que congrega o Povo de Deus, cumprir o dever missionário de infundir confiança e proclamar as razões da esperança cristã. Assim indica a Exortação Apostólica de São João Paulo II, sobre a missão do bispo: “O Bispo é profeta, testemunha e servo desta esperança sobretudo nas situações onde maior é a pressão de uma cultura imanentista, que marginaliza qualquer abertura à transcendência. Onde falta a esperança, também a fé é posta em questão; e o amor enfraquece, quando começa a exaurir-se aquela virtude. Com efeito a esperança, especialmente em tempos de crescente incredulidade e indiferença, é firme apoio para a fé e incentivo eficaz para a caridade. Extrai a sua força da certeza da vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2, 3) e da presença constante do Senhor Jesus, o Emanuel, que está sempre conosco até o fim do mundo (cf. Mt 28, 20).
A missão de cada bispo inclui, assim, tudo fecundar com a sua competência espiritual de ser operário na semeadura da esperança. Ele sabe que a luz do Evangelho é insubstituível para alimentar a esperança de todos. Em diálogo com o Povo de Deus, considerada a falência de “esperanças” baseadas em ideologias materialistas, imanentistas e economicistas, inclusive aquelas que buscam medir tudo em termos de eficiência e relações de poder, o bispo tem a missão de reafirmar: somente a luz do Ressuscitado e o impulso do Espírito Santo ajudam a humanidade a encontrar a esperança que não
desilude, conforme ensina a Exortação Apostólica de São João Paulo II. Por isso, o bispo é convocado a resistir e a não se deixar atemorizar pelas várias formas de negação da fé, que procuram, mais ou menos abertamente, minar a esperança cristã, fazer dela uma paródia ou escarnecê-la.
Os muitos afazeres de um bispo, na organização e gestão pastoral da Igreja, não esgotam ou substituem esta dimensão essencial de sua identidade: ser servidor do Evangelho para levar esperança ao mundo. Conta sua vida interior, influencia determinantemente as raízes e dinâmicas de sua história de vida pessoal e familiar, tendo a esperança como força que sustenta seus passos na promoção e na vivência da fraternidade, da justiça e da paz. A missão do bispo é indispensável e insubstituível, para que a humanidade desenvolva a sua capacidade de esperançar e, assim, não deixe apagar a chama da esperança, fonte de sabedoria.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte